O sono é um dos processos mais importantes para manter a qualidade de vida, sendo considerado uma necessidade biológica independente. Desde características mais sofisticadas do ser humano, como a cognição e capacidade de memória, até mecanismos mais primitivos do funcionamento do corpo, todos dependem, em algum nível, de um sono adequado. Sem ele, não é possível sustentar a vida.
Hoje sabemos que muitas das funções do nosso organismo acontecem de forma cíclica e rítmica, de acordo com o que chamamos de “ciclo circadiano”. O tempo deste ciclo é de “cerca de um dia” e ao longo desse período as nossas células estão programadas para agir de determinadas maneiras de acordo com o momento do dia. Essa programação deve estar alinhada com os estímulos do ambiente, assim como foi durante a nossa evolução: atividades, alimentação e vigília durante o dia, na presença da luz; descanso e sono durante a noite, na escuridão, no momento de recolhimento. A questão é que hoje em dia, a existência de luzes artificiais e turnos de trabalho noturnos acabam desalinhando a programação do organismo em relação aos sinais do ambiente.
No caso do sono, mesmo sem nenhum controle circadiano, uma hora o corpo humano chega a um limite e precisa “desligar” e dormir. E quando ele chega nesse limite, não importa se é dia ou noite, ele desliga. E não é uma simples questão de cansaço: ter um sono de duração suficiente, com continuidade e alcançando a profundidade adequada é necessário para prevenir alterações fisiológicas que impedem o funcionamento pleno do organismo.
Mas apesar do sono ser, em algum nível, independente do controle circadiano, para colher os seus benefícios, o ciclo de dormir - acordar deve estar alinhado com o ciclo claro - escuro da natureza. Basta pensar na melatonina: esse hormônio é o responsável por promover um sono restaurativo, de qualidade e quantidade suficientes, e sua produção só começa quando o dia escurece, alcançando seu pico no auge da escuridão. Logo, se a noite for trocada pelo dia, o sono na claridade não contará com o nível de melatonina necessário para que seja adequado. E se o ritmo circadiano do sono fica desalinhado dos estímulos ambientais de luminosidade, diversas funções metabólicas acabam sendo prejudicadas.
Entenda o momento do sono como um “reset”: se considerarmos que, assim como a natureza, funcionamento em ciclos, devemos ter em mente que esses processos se caracterizam por ter um início e um fim, para depois começar novamente. Se não existe o momento de “desligar e resetar” todo o funcionamento das células, estas acabam ficando desgastadas e o corpo perde vitalidade, suas funções ficam fora do tempo do relógio biológico e não conseguimos realizar nossas atividades da rotina de forma satisfatória.
Ao dormir, permitimos que uma fase importante do ciclo aconteça (o de descanso, restauração) e para que isso seja eficiente, devemos estar alinhados com a dinâmica da natureza e com aquela que o corpo humano evoluiu: dormir no escuro, vigília na claridade. E se nos programamos para esse alinhamento, todo o corpo responde de forma mais eficiente e conseguimos vibrar com mais plenitude na rotina diária.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Vitaterna, M H et al. Overview of circadian rhythms. Alcohol research & health : the journal of the National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism vol. 25,2 (2001): 85-93.
Vasey, C.; McBride, J.; Penta, K. Circadian Rhythm Dysregulation and Restoration: The Role of Melatonin. Nutrients 2021, 13, 3480. https://doi.org/10.3390/ nu13103480
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