Eixo intestino - cérebro: como o estresse altera a função intestinal


O intestino é habitado por um número gigantesco de microrganismos, que, em conjunto, ultrapassam a quantidade de genes presentes em todo o genoma humano e formam a microbiota. Esses seres não estão ali apenas ocupando um espaço, ou aproveitando dos nutrientes que existem em abundância no intestino, mas também têm um efeito direito na saúde do seu hospedeiro. O que determina se esse efeito é positivo ou não é o tipo de bactéria que predomina no ambiente intestinal.

Hoje em dia, com o crescente interesse nestes microrganismos habitando o intestino, sabemos que existem gêneros e espécies que têm um impacto extremamente benéfico, trazendo ainda mais saúde para o organismo, mas outros fazem o contrário e podem ser um fator de risco para o surgimento de várias condições indesejadas. Esse segundo tipo, as bactérias patogênicas, podem gerar desequilíbrios no ambiente intestinal e ocasionar o que conhecemos como disbiose.

Uma das razões de tamanha repercussão desses seres tão minúsculos na saúde é que existem eixos de comunicação direta e bidirecional entre o intestino e outras regiões do corpo. Isso significa que o que acontece ali, inclusive as bactérias que crescem e os metabólitos que produzem, têm um efeito em locais mais distantes, ao mesmo tempo que, o que acontece nesses locais mais distantes, também influencia o intestino. À primeira vista, muitos dos órgãos com os quais se comunica, não parecem ter uma ligação direta com o intestino, e um deles é o cérebro. Intestino e cérebro conversam a partir de diferentes formas de sinais, moléculas e impulsos nervosos, e não dá para separar os seus funcionamentos.

O estresse é uma resposta do organismo à presença de algum estressor, físico ou psicológico, como, por exemplo, privação de sono, má nutrição, prática de exercício físico muito extenuante, medo, ansiedade ou ainda a presença de muitas demandas cognitivas, o que é extremamente comum nos dias de hoje, visto que estamos constantemente expostos à uma série de estímulos, prazos e obrigações.

Esses fatores ativam um eixo chamado hipotalâmico-pituitária-adrenal, responsável por liberar os conhecidos “hormônios do estresse”, que atuam no sentido de lidar com esses estressores. O problema é que, se a exposição a essas situações que ativa o eixo HPA for crônica e descontrolada, acaba resultando em um efeito negativo na estrutura e função do cérebro, aumentando a inflamação nesse órgão. Memória, aprendizagem e humor ficam debilitados.

O intestino também sofre com o estresse pois essa condição altera a composição da microbiota, diminuindo a quantidade de bactérias benéficas. Esse tipo de bactéria tem o potencial de produzir substâncias anti inflamatórias, e sem elas, a inflamação tanto no cérebro quanto no intestino só aumenta e, em um ciclo vicioso, piora o estresse que piora a inflamação, que afeta a microbiota, que compromete o funcionamento cerebral, e assim sucessivamente…

Adotar hábitos que tem o objetivo de manejar o estresse, dessa forma, é imperativo não só para evitar os sentimentos ruins que ele causa, mas para garantir saúde e vitalidade para o corpo, disposição e energia para a mente e um intestino que repercute de maneira positiva em toda a saúde. A meditação, a prática física regular e moderada, dentro dos próprios limites, o consumo de chás e o uso de óleos essenciais são exemplos de tais hábitos.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Gubert, C., Kong, G., Renoir, T., & Hannan, A. J. (2019). Exercise, diet and stress as modulators of gut microbiota: Implications for neurodegenerative diseases. Neurobiology of Disease, 104621. doi:10.1016/j.nbd.2019.104621

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